Olá crocheteira!
Você sabe o que é celebrado no dia 11 de junho? A dica é: tem a ver com artes manuais (claro!), com a rua e com ressignificação. Não podíamos deixar a data passar e você PRECISA conhecer esse movimento. É o dia Internacional do movimento Yarn bombing (bombardeio de fios em tradução literal)! E é sobre a história desse movimento que coloca nas cidades a nossa arte, que vamos conversar.
Origem do Movimento Yarn Bombing
A princípio, tudo começou no Texas, em 2006, com a artista têxtil Magda Sayeg. Sem saber o que estaria influenciando, ela apenas começou a transformar o caminho que via todos os dias, sua vizinhança. Envelopou a maçaneta de seu ateliê, uma placa de pare na rua, árvores, e a cada ação sua as pessoas tinham reações curiosas e animadas com aquelas intervenções.
O que era apenas uma forma de deixar um caminho mais divertido e colorido, foi se transformando em algo a mais. O ambiente urbano se tornou o seu playground, e assim, a rua e objetos foram tomando vida, mesmo que de forma efêmera. Uma de suas obras mais conhecidas foi quando cobriu um ônibus de crochê, foram necessários vários voluntários e uma semana de trabalho para chegar ao resultado abaixo.
Tem um TED explicando um pouco dessa trajetória, mas para deixar um gostinho de qual era a sua ideia, fica um trechinho aqui: “Todos vivemos nesse mundo acelerado e digital, mas ainda assim, desejamos algo com que possamos nos identificar”, diz Sayeg. “O poder oculto pode ser encontrado nos lugares mais simples, e todos temos habilidades que estão apenas esperando serem descobertas“. Nos identificamos 100%, até porque, lembrou demais o nosso manifesto: Temos que desacelerar para tecer a teia da nossa existência e realizar os nossos sonhos com nossas próprias mãos.
Intervenções urbanas
E ela realmente inspirou as pessoas saírem às ruas para criar. Em 2009, houve a explosão da ideia no mundo todo e o surgimento do Yarn Bombing, que nada mais é que uma intervenção artística em local público por meio das artes manuais.
Assim sendo, a ideia é usar o trabalho artesanal com fios para adornar t-u-d-o que você puder imaginar. Já aconteceu em postes, pontes, árvores, monumentos, tanques de guerra, e por aí vai…
Por ser uma intervenção perecível e temporária, acaba que o processo de construção destas é tão importante quanto o resultado final. Além disso, por ser feito de forma manual, envolve a participação e colaboração de diversas pessoas.
Nessa matéria da BBC discute-se um pouco sobre a beleza do efêmero e conta algumas histórias bem legais de ligações que aconteceram durante esses processos de construção.
Motivações do movimento
O movimento Yarn bombing também pode ser um caminho de problematização de situações cotidianas nos centros urbanos; uma forma de contestação política, social e econômica.
Assim sendo, é frequentemente é chamado de nova guerrilha urbana, armados de linhas para levar questionamentos importantes para as ruas e a todos que ali passam.
Por outro lado, ser um ato político é decisão do artista, de seus estímulos e interesses, porém, não há como negar que a politização é intrínseca ao movimento.
Afinal, é colocada uma arte que por milhares de anos tem sido associada como feminina, subvalorizada e restrita ao meio privado, e agora vem ocupando espaços públicos das mais variadas formas.
A intervenção artística de rua mais comum é o grafitti, no entanto é dominada pelo meio masculino. Inserir o Yarn bombing nesses espaços é retirá-lo do espaço privado e dar voz e visibilidade à essa arte. Portanto, trata-se de inverter esse quadro e colocar a nossa arte em outro patamar social.
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Estátua em Paris com intervenção de Magda Sayeg -
Bull em NY crochetado por Agatha Olek
A artista, e nossa professora, Anne Galante deu um depoimento que revela a importância de utilizar esses espaços públicos para a acessibilidade e conhecimento da própria arte.
De acordo com Anne: “intervir na cidade é uma forma de não-musealização da arte. A arte urbana não limita a sociedade, nem sequer faz acepção de pessoas. Ela não escolhe certo tipo de público ou classe social. A rua, a pele da cidade, abrange a todos como espectadores”, diz Anne. “É a minha vida, é a minha luta, é o que eu acredito e posso fazer para conscientizar e inspirar mais pessoas para o mundo artesanal, com menos lixo e mais significado”.
Anne Galante
E é claro que a Anne já tomou as ruas por aí também. No Nu Festival, ela utilizou 1.250kg de plástico para envelopar a sede do Nubank com seu crochê gigante, buscando reimaginar a cidade de São Paulo. Quer conferir um pouco sobre a produção? Olha esse vídeo!
A Anne também chegou a criar o termo “graficrochet”, no qual crochê é aplicado nas paredes. Sua primeira intervenção urbana foi com a série “Nem todo splash é tinta”, mostrando que não precisa usar apenas tinta para fazer parte dessa galeria a céu aberto, que é São Paulo. Esse trabalho tá uma delícia de ver!
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Intervenção da Anne Galante por SP -
Intervenção da Anne Galante por SP
O movimento Yarn Bombing está presente no mundo todo, mas um dos maiores grupos é o Knit the City e tem sua sede no Reino Unido. Outro gigante é o The Craft Club Yarn Bomb que entrou para a história do Guiness Book por terem organizado a maior exposição de crochê com 13 mil peças. Incrível, não é?
E aí, você também acha que o Yarn bombing pode influenciar na forma como nos conectamos e observamos as cidades? Deixe seu comentário aqui falando o que achou do movimento, vamos adorar trocar essas ideias!
Por fim, você não sabe como foi difícil escolher apenas algumas imagens. Não deixe de pesquisar mais referências. Vale a pena!
Um beijo e até semana que vem!
*Imagens retiradas do Google, Pinterest e Flickr.